Cenário Econômico Junho 2023
Cenário Internacional
Economia
Nas principais economias desenvolvidas, o mês foi caracterizado pelo aumento das expectativas das taxas terminais de juros e de postergação do início do afrouxamento monetário. A persistência inflacionária, verificada através dos núcleos das cestas de bens e serviços dos índices, segue desafiando os bancos centrais. A guerra na Ucrânia e os atritos entre China e EUA continuam sendo os principais riscos a serem monitorados além da questão inflacionária.
Nos EUA, o mercado de trabalho segue aquecido, com os últimos dados um pouco melhores na margem. Os balanços corporativos permanecem saudáveis, visto que demanda não teve grandes impactos negativos e as firmas estão conseguindo repassar os aumentos de preços dos salários e matérias primas. Estes fatores, junto ao excesso de poupança acumulado na pandemia que ainda não se esgotou, vem sustentando a atividade.
O FED, a despeito da pausa da reunião de junho que manteve os juros entre 5,00% a 5,25% a.a., já deu sinais que na reunião de julho irá aumentar em 0,25% e que talvez tenha que fazer mais um aumento. Porém, já se vê indicativos de desaceleração da atividade, como os primeiros dados de vendas no varejo do segundo quadrimestre que vieram piores, redução nos itens mais cíclicos de investimentos em capital fixo e projeções de resultados corporativos que mostram que as margens podem estar se enfraquecendo. Dado este cenário, não se descarta uma recessão nos EUA ainda em 2023, mesmo que os mercados financeiros não pareçam dar alta probabilidade de isto ocorrer.
1 PMI – índice que mede o quanto os gerentes das empresas estão adquirindo insumos, o índice vai de 0 a 100, sendo 50 o valor da neutralidade;
Na Europa, embora a inflação tenha recuado com o declínio do preço de energia, a
disseminação do choque de oferta tornou o núcleo1 do índice resiliente, o que fez o ECB (Bacen da Zona do Euro) aumentar mais uma vez os juros em 0,25%, para 4,00% a.a.. Já se observa contração no consumo privado desde o fim de 2022 e, conjuntamente com os PMIs 2 evidenciando deterioração no setor manufatureiro, sugerem menor poder de repasse de preços das empresas, o que deve auxiliar na contenção da inflação. Paralelamente, o inesperado aumento de juros na Inglaterra de 0,50%, elevando a taxa de juros básica para 5,00%, demonstra o desafio que as economias desenvolvidas enfrentam para domar a inflação. Já existem apostas de taxa terminal para o Reino Unido de 6,00%, visto pela última vez em janeiro de 2001, após o ciclo de aperto monetário implementado entre 1999 e 2000.
Em relação à China, a fala do primeiro-ministro afirmando que o crescimento acelerou no
segundo trimestre e que mais estímulos serão implementados, trouxe alento aos mercados.
Vários indicadores no mês vieram negativos: os PMIs decepcionarem, as vendas de casas
desaceleraram e os dados de crédito sugerem que as famílias seguem hesitantes em
contrair empréstimos de longo prazo. A recuperação econômica, após o fechamento das
cidades durante a Covid, tem se mostrado abaixo das expectativas e desigual, focado em
serviços e lazer. Diante desses fatores, o PBOC (Bacen Chinês) inesperadamente cortou as
taxas de juros em 0,10%. Houve também anúncios pelo governo de corte de impostos e
isenções, algumas direcionadas para PMEs. Como a China não possui problemas
inflacionários, devemos ter novas medidas de incentivo, especialmente se a fraqueza
econômica não for revertida. A reunião do Partido Chines em julho e seus desdobramentos
devem indicar possíveis novas estratégias para sustentação da economia.
1 Núcleo da Inflação – índice de inflação sem alguns itens mais voláteis como energia e alimentos, sendo melhor para avaliar a tendencia da inflação.
2 PMI – índice que mede o quanto os gerentes das empresas estão adquirindo insumos, o índice vai de 0 a 100, sendo 50 o valor da neutralidade;
Dados do Cenário Internacional
No mês, a bolsa americana (S&P) subiu 6,47%. Em doze meses, a alta acumulada foi de
17,57%.
Na renda-fixa, as taxas dos títulos (Treasures) de 5 anos americanos3 foram de 3,76%a.a.
para 4,16%a.a. com a taxa básica de juros (FED Funds) ficando inalterada na reunião de
junho, para o intervalo de 5,00% a 5,25% a.a.. Doze meses atrás a taxa destes títulos estava em 3,04% a.a.
O Dólar5 (DXY) se desvalorizou -1,36% frente as outras moedas desenvolvidas no mês e as moedas de países emergentes (MSCI EM Currency Index) se valorizaram em relação ao dólar 0,26%. Em doze meses a desvalorização do dólar chegou a -1,69% e as moedas de
países emergentes se valorizaram 0,57%.
Cenário Brasil
Economia
No Brasil, tivemos novidades positivas sobre a inflação no último mês. Além de números
melhores tanto do IPCA quanto do IPCA-15, o governo anunciou a manutenção da meta de
inflação em 3% e as expectativas 1 de curto e de longo prazo caíram substancialmente. No
campo político, houve dois eventos relevantes: a decisão do TSE pela inelegibilidade do ex-
presidente Bolsonaro e a aprovação na câmara da reforma tributária, já na primeira
semana de julho.
O IPCA-15 de junho veio em linha com a visão de que o processo de aperto monetário
realizado pelo BC vem surgindo efeito. Em 12 meses, o índice acumula alta de 3,4%, ante
4,1% em maio, e focado em menos produtos. Entretanto, a abertura do dado revela que o
núcleo2 está arrefecendo morosamente. O índice tem se beneficiado da deflação de
alimentos, relacionada à queda das commodities, da redução nos preços dos automóveis e
dos cortes nos preços de combustíveis. Porém a inflação subjacente de bens industriais e
serviços segue flutuando próxima de 6%, nível incompatível com a meta de inflação para o
índice cheio, o que ajuda a justificar a demora do Bacen em começar o ciclo de corte de
juros, mesmo com toda a pressão da classe política.
1- Boletim Focus – pesquisa semanal feita pelo Banco Central com gestores e bancos sobre expectativa de indicadores econômicos, como IPCA, PIB etc.
2- Núcleo da Inflação – índice de inflação sem alguns itens mais voláteis como energia e alimentos, sendo melhor para avaliar a tendencia da inflação.
Em Junho, o Bacen manteve da taxa de juros em 13,75% a.a.. O comunicado da reunião foi
duro, porém na divulgação da ata houve a adoção de um tom mais leve, abrindo um espaço
para início dos cortes já na reunião de agosto, consistente com o cenário implícito na curva
de juros local. Junto com a opção do CMN pela manutenção de uma meta contínua de 3%
de inflação no longo prazo, as expectativas 1 de mercado estimam que a primeira redução
ocorra na próxima reunião, no começo de agosto, e que os juros encerrem o ano em 12%
a.a..
O emprego e a e renda começam a mostrar sinais de moderação, a taxa de desemprego
está acima de 8%, com a queda na taxa de participação da força de trabalho compensando
o ritmo de crescimento mais fraco da população ocupada. Já não se observa aumentos
salariais reais acima da inflação de forma disseminada, como ocorreu em 2022. Porém as
perspectivas para o consumo continuam melhores do que o inicialmente projetado, as
maiores transferências de renda do governo, com destaque ao programa Bolsa Família, e o
recuo da inflação devem contribuir para a sustentação do consumo no curto prazo. A
elevação da confiança do consumidor, que atingiu em junho o maior patamar em mais de quatro anos, corrobora este cenário. Com isto, as expectativas 1 de PIB para 2023 foram de
1,83% para 2,20%. Porém as expectativas1 para 2024 continuam baixas em 1,30% a.a..
1- Boletim Focus – pesquisa semanal feita pelo Banco Central com gestores e bancos sobre expectativa de indicadores econômicos, como IPCA, PIB, etc.
Dados do Cenário Nacional
O Ibovespa fechou o mês aos 118,1 mil pontos, alta de 9,00%. O índice de Small Caps, que
possui menos commodities e mais empresas ligadas ao mercado doméstico, teve
desempenho em linha com o Ibovespa, com alta de 8,19%. O Ibovespa acumula alta de
19,84% em doze meses contra alta do Small Cap de 19,80%.
Na renda fixa, o CDI teve rentabilidade no mês de 1,07%, os títulos pré-fixados de 5 anos2
tiveram ganhos de 4,50%, e os títulos de inflação de 5 anos3 tiveram ganhos de 1,59%. Os
ativos de crédito indexados a CDI4 tiveram ganhos de 1,27% (118% do CDI). Em doze meses, o CDI rendeu 13,54%, os pré-fixados de 5 anos renderam 25,87%, os títulos de inflação de 5 anos ganhos de 12,93% e os ativos de crédito indexados a CDI renderam 9,34% (69% do DI).
O Real1 se valorizou em relação ao dólar 5,43%, terminando o mês em 4,82, vindo de 5,09
no mês anterior. Em doze meses a valorização está em 8,00%, com o câmbio a doze meses
em 5,23.
Os fundos Imobiliários5 tiveram ganhos de 4,71% no mês, com ganhos de 12,88% em doze
meses.
Os fundos multimercados brasileiros6 tiveram um ganho médio de 1,33% no mês (124% do
CDI) com rendimento em doze meses de 8,94% (66% do CDI).
1- Ptax; 2- Anbima Idka Pre 5 anos; 3- Anbima idka IPCA 5 anos; 4- JGP Idex CDI; 5- IFIX; 6- Anbima IHFA.
Cenário Econômico escrito por: Rogério Merhy – Gestor de Portfólio.